#ArteviewNaPlateia – Review do musical A Noviça Rebelde

Por Léo Braga

A Noviça Rebelde chegou aos palcos da Broadway em um período de extrema importância. A chamada Era de Ouro dos Musicais teve um número grande de musicais que são verdadeiras Obras-primas e o “The Sound of Music” não fugiu disso. E que sorte a nossa!

Também pudera… O time que se montou para a criação do musical já era uma receita de sucesso. Com libreto da dupla Lindsay e Crouse, o sucesso seria certeiro se chamassem os gênios Rodger & Hemmerstein II, também responsáveis por compor músicas para outros estrondosos sucessos como Oklahoma!, Carousel, South Pacific, The King and I e outros tantos já consagrados à época.

O musical virou filme e o filme ganhou o mundo para contar a história da postulante (e não noviça) Maria Reiner, que sai do convento para cuidar dos 7 filhos do Capitão Von Trapp, com quem acaba se casando. Mais para frente, a família se vê obrigada a fugir da Áustria para sobreviver ao regime nazista durante a década de 40.

Uma breve história do musical no Brasil: Moeller e Botelho já fizeram três montagens do musical por aqui, em 2008, 2018 e a atual montagem que estreou no Rio neste ano, já passou por São Paulo e voltou ao Rio devido ao enorme sucesso.

Apesar das diferentes montagens, não vou fazer comparações entre as montagens, mas como já fiz em outro texto, traçarei alguns – pequenos – paralelos. E o primeiro deles será justamente sobre a atual protagonista.

Foto: Caio Gallucci

Malu Rodrigues, já há tempos conhecida pelo público de musical, deu vida em 2008 à sapeca Louise e em 2018 à protagonista que agora revisita. E é neste ponto que o paralelo se faz latente na minha cabeça: na nova montagem, Malu entrega uma Maria mais madura do que em 2018 e extremamente carismática. Apesar de ser um papel que ela já viveu, desta vez a atriz entrega algo mais segura e com uma beleza cênica (e uma comicidade elegante) que dá orgulho a quem já acompanha seu trabalho há tanto tempo.

Foto: Caio Gallucci

E algo parecido acontece com Larissa Manoela, que viveu a pequena Gretel em 2009 (quando a montagem chegou em São Paulo) e em 2018 interpretou a mais velha das filhas von Trapp, Liesl, repetindo a personagem agora. Larissa também entrega uma Liesl mais bem desenhada e segura. O que nos faz entender que a atriz não é uma estrela apenas por causa da Maria Joaquina (Carrossel, 2012). Ela é uma estrela porque é evidente que desde sempre estuda e é dedicada para além do talento. – O papel de Liesl é alternado entre Larissa e Giovanna Rangel, talentosíssima, que, apesar de fazer o mesmo papel, entrega uma Liesl com outras camadas e apaixonada por Rolf, o jovem carteiro que se demonstra um herói, vivido por Eduardo Borelli, que parece ter se encaixado no personagem como uma luva.

Foto: Caio Gallucci

O reencontro de Malu Rodrigues vai para além deste musical: Pierre Baitelli, de quem já foi par em O Despertar da Primavera (2009) também dirigido por Moeller e Botelho. Pierre está na pele de um Capitão Von Trapp mais jovem do que estamos acostumados e com uma diferença menor de idade entre si e a Maria. Isso importa? Nem um pouco! O jogo impecável entre Malu e Pierre faz com que não pensemos nisso nenhuma vez! Os dois foram uma dupla e tanto.

Como o elenco é muito grande, não vou falar de cada um dos atores e personagens senão eu faria um livro – eu eu teria muito para falar, uma vez que sou apaixonado por essa obra. Então, acredito que eu deva ainda elogiar os trabalhos de Ingrid Gaigher, como a Baronesa Elsa, Pedroca Monteiro, como Tio Max e a incrível Analu Pimenta como a Madre Superiora. Além disso, também tive a alegria de ver Amanda Vicente no papel da Madre e foi um imenso prazer.

Foto: Caio Gallucci

As crianças também são uma parte impecável do espetáculo. São muitas crianças e não cometerei a injustiça de falar nomes de todos porque não acho que seja necessário traçar qualquer tipo de comparativo entre as diferentes famílias – elas são incríveis! As crianças von Trapp são uma instituição e muito da alma deste espetáculo. O trabalho de casting de Marcela Altberg se mostra mais uma vez algo indispensável para o nicho musical pela sua maestria nas escolhas.

Por falar em alma, o cenário desta montagem é algo que precisa ser comentado e aplaudido. Nicolás Boni nos presenteia com uma cenografia viva por meio de um telão incrivelmente lindo, em que podemos ver o tempo passar, ver uma movimentação, chuva… É um espetáculo dentro do espetáculo.

Outro espetáculo em cena é o figurino. Karen Brusttolin não erra nunca! Se tem uma figurinista de quem eu sou fã é ela. Cada detalhe do figurino é lindamente pensado e e executado pela sua equipe incrível.

E em mais uma belíssima direção musical, Marcelo Castro marca presença na obra da dupla Moeller e Botelho mais uma vez regendo uma orquestra deliciosa de ouvir.

Charles Moeller e Claudio Botelho têm muita influência na minha vivência musical e acredito que na de muitas pessoas que consomem musical assiduamente, mas retomada da parceria deles com a Aventura é algo que eleva o nível dos musicais no país e esta montagem de A Noviça Rebelde é a prova disso.

Foto: Caio Gallucci

A parte ruim desta montagem é que ela está para acabar. O espetáculo se despede da Cidade das Artes quando a família von Trapp subir a montanha pela última vez no próximo domingo. E com todos os ingressos esgotados. No mais, é uma montagem primorosa que poderia ser vista e revista e digna de cada ingresso vendido.