#ArteviewNaPlateia – Review de Legalmente Loira O musical

Por Léo Braga

Fui assistir ao musical Legalmente Loira já preparado para não gostar do espetáculo. E isso não por eu não confiar na competência artística de toda a equipe, mas sim por uma questão pessoal: eu prefiro musicais clássicos. Mesmo assim, fui com o coração aberto e com esperança de ser surpreendido.

Foto: Andreia Machado

Eu gosto de chegar ao teatro e encontrar as cortinas fechadas. Acredito que isso ajude a construir a atmosfera de estar no teatro, aguça a curiosidade e faz imaginar o que está por vir em alguns minutos. E, apesar da recente tendência de musicais com cortinas abertas, Legalmente Loira segue o modelo mais tradicional e se apresenta com uma cortina bastante chamativa, em um rosa-choque brilhante, que pode ser visto a quilômetros de distância.

A peça é uma adaptação do já clássico filme de comédia de mesmo nome, estrelado pela maravilhosa Reese Witherspoon. A película, por sua vez, é uma divertida adaptação do livro homônimo de Amanda Brown. Estreando na Broadway em 2007, a produção já teve diversas montagens ao redor do mundo e chegou ao Brasil como um sucesso que dispensa apresentações. Mas, caso você esteja perdido: Legalmente Loira conta a história de Elle Woods, uma patricinha excêntrica (e loira) que decide ingressar na renomada Harvard, no tradicional curso de Direito, com o objetivo de reconquistar o ex-namorado boy lixo, que a deixou por não considerá-la séria o suficiente para que ele seja respeitado no mundo da política.

Desde o final dos anos 2000, ouvimos falar que ‘Legallly‘ seria montado no Brasil. Nomes foram levantados, produtoras foram especuladas, direitos de montagem foram comprados e perdidos. O tempo foi passando, e nada acontecia. Até que a Atelier de Cultura foi lá e fez.

Nossa Loirinha é a já conhecida pelo público de musicais – embora não seja loira – Myra Ruiz. Os fóruns de musicais nas redes sociais explodiram com o anúncio, com pessoas comemorando e outras reclamando da escalação. Mas isso aconteceria de qualquer forma, independentemente da escolha. Como eu não era o maior conhecedor do espetáculo, preferi assistir antes de expressar opiniões.

A peça começa com uma cena de plateia, mas eu não consegui entender muito do que as meninas falavam. Não por culpa das atrizes, mas devido a problemas nos microfones – algo que acontece em peças microfonadas, e tudo bem.

Já na primeira cena do então casal Elle e Warner (Renan Rosiq), percebemos uma boa sintonia entre os dois. A química entre os atores é algo que se mantém do começo ao fim do espetáculo. Todos demonstram comprometimento e entrega.

A peça emenda uma piada na outra, quase não dando tempo para terminarmos uma risada antes de começarmos outra. A plateia animada contribui muito para a construção daquela atmosfera teatral que mencionei no início. Na sessão em que estive, a plateia estava superanimada, mesmo com o trânsito caótico em uma quarta-feira de falhas nas linhas de metrô em São Paulo – inclusive, algumas pessoas chegaram atrasadas e puderam entrar normalmente. Eu mesmo cheguei segundos antes do terceiro sinal.

E quanto à Myra? Curioso como estava, tentei observar ao máximo a atriz. Ela dançava como há muito tempo eu não via, e cantava tantos trechos que até eu ficava sem fôlego sentado no meu assento. É natural que uma ou outra nota saísse do lugar depois de tantos passos, mas isso em nada prejudica a performance da atriz. Myra também está completamente entregue.

Foto: Andreia Machado

Fico na dúvida sobre quem é o ponto alto da peça: se é o Emmet (Hipólyto) com sua beleza, carisma e talento; se é a Paulette (Leilah Moreno) com seu vozeirão e figurinos super chamativos; ou se é a invejosa Vivianne (Gigi Debei), que se posiciona como a antagonista durante quase todo o espetáculo, mas revela-se extremamente humana com suas inseguranças por ter a ex do atual tão próxima.

Se no filme temos uma belíssima Brooke, a nossa montagem não fica atrás com a beleza de Amanda Döring, que vai além disso ao protagonizar a melhor cena coreográfica de todo o espetáculo – mérito também do talentoso e experiente coreógrafo Floriano Nogueira.

Uma dúvida que me veio à cabeça várias vezes foi: ‘De onde a cenógrafa e os figurinistas conseguiram tanto rosa?‘ Eu achava que já tinha visto todos os matizes de rosa no filme da Barbie, mas descobri mais alguns tons em um belo trabalho plástico.

A única coisa que acho que poderia ter sido diferente em todo o espetáculo é o som. No começo, não entendi o que as amigas de Elle diziam na cena da plateia e, por diversas vezes, perdi uma fala ou outra devido ao volume extremamente alto vindo das caixas de som, que acabou distorcendo principalmente o que era cantado em registros mais agudos.

Legalmente Loira poderia ter dado muito errado devido à grande expectativa que o público tinha com a montagem após tantos anos de espera, mas o que se pode assistir no Teatro Claro Mais SP é mais um acerto do diretor canadense John Stefaniuk, já conhecido do público por suas direções em musicais como Billy Elliot, Matilda, Evita e a aclamada versão não replicada de Wicked.

Ao final, a peça que eu estava pronto para não gostar me fisgou e me deixou feliz.

Serviço

Até 06 de outubro
Local: Teatro Claro Mais SP – Shopping Vila Olímpia – R. Olimpíadas, 360 – Vila Olímpia, São Paulo
Quando: quarta a domingo às 19h30; sábados e domingos às 15h
Todas as sessões contam com acessibilidades
Preços: de R$19,80 a R$370,00